quarta-feira, 26 de março de 2008

TIRANDO OS PÉS DO CHÃO

Está certo, vocês provavelmente nunca ouviram falar de Eternos Heróis (Mickybo & Me). Quase ninguém ouviu. Não se trata de um arrasa quarteirão, menos ainda de um filme com enredo surpreendente, ou do tipo que você tem que cavar muito para sacar que debaixo de algumas camadas habita a mensagem que mudará a sua vida. Certamente você não conseguiria lotar uma Kombi, caso decidisse juntar todos as pessoas que dedicaram algum tempo - e dinheiro - sentados em poltronas de cinema para assistir às aventuras de Mickybo Butch Cassidy (John Joseph McNeill) e Jonjo Sundance Kid (Niall Wright). Então, por que cargas d'água meus olhos brilharam quando do fundo de uma montanha de DVDs em liquidação, emergiu aquela caixa com os dois garotos na capa?

Rodado em 2003, Eternos Heróis quebra a vidraça do adulto-dono-da-situação expondo o lugar para onde cada um de nós gostaria de retornar sempre que possível: a inocência. Um território percorrido por todos, a cada subida de gangorra ou descida de balanço em uma Belfast dividida entre católicos e protestantes. Pode nem ser um tema novo - como de fato não é, mas o mérito maior de Eternos Heróis é justamente não ligar a mínima para isso. O que importa é aproveitar o sabor das jujubas, sem se preocupar com as cáries. Seria muito, mas há ainda a bela fotografia, a interpretação na medida dos garotos, a grandiosa trilha que inclui Summertime de Gershwin na voz de Billy Stewart e I'll Tell Me Ma de Sinead O'Connor, (que a propósito não foi excomungada pelo Papa por cantar apenas Nothing Compares To You).

Sonhos só podem existir, porque o mundo real existe. Ou como nos mostra o curto diálogo entre uma mãe e seu filho, logo na primeira cena do filme: "Tire os pés do chão". Para o bem ou para o mal.



ao som de I Defy da JOAN AS POLICE WOMAN

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