quinta-feira, 3 de abril de 2008

QUEM TEM MEDO DE BRINCAR DE AMOR - Parte 1

Seis da tarde é um territórios perigoso sob a chuva que faz do asfalto um espelho. Existem dois modos de envelhecer: o primeiro dignamente. O segundo, o que eu recomendo. Por isso mesmo ligo um cigarro, enquanto o tilintar dos copos me acalma. Marcella sempre foi um sonho e ainda que a falta de alguma carne quente e sólida dentro daquele corpo seja algo a lamentar; bem, você sabe: um Cock Stroker sempre será capaz de superar qualquer paspalho cagão vivendo da aprovação de um bando de amiguinhos punheteiros.

O fato é que, aqui estou eu. O menor homem do mundo. Um sujeito de enormes gengivas e uma nota de cinqüenta na carteira. Com as chaves precariamente dispostas num mosquetão preso às calças, levando uma vida de vírgulas e aindas. Um obstáculo embalado em jeans barato assistindo inerte ao estupro de uma garrafa de cerveja enquanto calcula com todas as letras a distância exata entre cada um dos seus fracassos. Os cotovelos fincados no balcão, o olhar vago. Como quem conta as pequenas sementes de um morango. Farto de qualquer questão maior que os pelos queimados saindo de suas narinas. Balbuciando palavras entrecortadas em quarenta e cinco rotações, como quem acaba de levar uma joelhada nos testículos.

Estou decidido a esquecê-la. Grito ao balconista por mais uma cerveja e posto a boca num quase sorriso. Acabo de perder uma linda e úmida boceta capaz de passar duas horas ao meu lado depositadas numa poltrona de cinema assistindo a mais um filme cool sobre amores impossíveis em algum lugar da Escandinávia. Ele, um loiro alto e de dentes imaculados com cerca de trinta anos. Um burocrata protestante conservador. Ela, uma menina de sardas num vôo desesperado pelos fiordes, numa busca incessante pela correspondência desse amor. Peço ao cara com um pano de prato no ombro uma caneta, com a qual rabisco rapidamente no guardanapo uma lista pessoal de catástrofes. Em ordem crescente: pão de forma colado no céu da boca, pentelhos presos nos dentes, polução noturna, câncer de esôfago e burocratas protestantes conservadores que alimentam falsas esperanças em garotas com sardas.

Minha decisão não pode esperar. É hora de esquecer tudo o que passou e as opções são: 1. procurar o banheiro masculino mais próximo e aguardar ser comido por um náufrago recém chegado à civilização e ávido por sexo, 2. entupir meu nariz engessado e 3. a morte. Penso na hipótese mais plausível e decido-me pelas três. Afinal de contas, de quem você gosta mais, do papai ou da mamãe? Quer saber, isso sempre foi um problema pra mim.


ao som de Creep do RADIOHEAD

7 comentários:

Siddhartha disse...

Olá,

apesar de não ser muito fã de blogs do estilo do seu gostei bastante do texto. É escrito de uma forma muito inteligente.

Acho que dá pra melhorar o layout dele pra ficar mais amigável para os visitantes.

Achei diferente o título do seu blog quando fala "fotografando com palavras"...

Bom, fotografia como dizem uns amigos meus é a arte de escrever com a luz...

Sei que você fez uma metáfora mas pra mim ficou meio sem sentido. Encare como um crítica construtiva.

Sorte com o blog.

Abraços.

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Guilherme SanPer disse...

legal

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José Vitor Rack disse...

você é fã do Santiago Nazarian? Conhece?

você me lembrou ele na hora!

SINOPSE INACABADA

IDÉIA NOVA

Tyler Bazz disse...

(boiei geral com seu comentário)

Unknown disse...

Mais um excelente texto!
É o segundo que leio e adoro!
Prende a minha atenção do início ao fim.
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(Didixy) Conquistadores disse...

Não é medo, é questão que o amor brinca conosco.

Texto muito bem escrtio.
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Pukka disse...

Gostei do texto Muito bem elaborado...voltarei sempre,add aos mes favoritos.Bye